segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Parnaíba e a Casa da Torre da Bahia

Por Diderot Mavignier

As abençãos do povo parnaibano pelos 300 anos de história.

Depois do Descobrimento da América e do Tratado de Tordesilhas, em terras das colônias de Espanha, México e Peru, foi descoberto ouro e prata. O Brasil, que no relato de Pero Vaz de Caminha dizia ser esta terra tamanha “porém o melhor fruto que dela se pode tirar, me parece que será salvar esta gente”, passou a ser visto com outros olhos pelo rei de Portugal. Com a chegada do primeiro governador-geral, Tomé de Souza, começou o processo civilizatório do Brasil, com caráter de exploração, quando se instituiu as entradas e bandeiras.

As bandeiras, excursões financiadas por particulares, diferenciavam-se das entradas que tinham investimentos reais. Através do trabalho dos bandeirantes, à luz dos séculos XVII e XVIII, o sertão brasileiro foi devassado, quando, até então, somente o litoral era arranhado pelos europeus. Palmilhando sem sossego o sertão, as bandeiras tinham como lema o segundo descobrimento do Brasil, e a missão de arrancar, das matas, as riquezas do gigante adormecido sem traços de civilidade.

De três pontos partiram as principais bandeiras: os paulistas, do planalto de Piratininga, cruzando serras, pelejaram para desbravar as terras férteis do sul e centro-oeste; aos baianos coube a difícil tarefa de se baterem nas terras áridas do nordeste, cheia de gentio bravo; os pernambucanos trilharam o litoral até o Maranhão, com a missão de expulsar os franceses invasores, estendendo o seu trabalho para atingir a foz do Amazonas. A estes corajosos homens das bandeiras, devemos o gigantismo do nosso país.

O Piauí contou, no seu devassamento, com o trabalho desses bandeirantes. Na Bahia, depois da chegada do primeiro governador-geral, teve início o processo de busca pelas riquezas do sertão nordestino. Dois grandes morgados foram criados: a Casa da Torre, dos Dias d’Ávila; e a Casa da Ponte, dos Guedes de Brito. A primeira destinou os seus sertanistas para o norte de Salvador, e a segunda, para o sul. Assim, as bandeiras da Casa da Torre ultrapassaram o vale do São Francisco e chegaram até ao Maranhão, sendo construído, nessa área, o maior latifúndio da história da humanidade, feudo com mais de 800 mil quilômetros quadrados, o equivalente às áreas somadas de Portugal, Espanha, Holanda, Itália e Suíça. A Casa da Ponte, por sua vez, expandiu os seus domínios até as nascentes do rio Das Velhas, em Minas Gerais. Nas fazendas das Casas da Torre e da Ponte, pastavam mais de 500 mil bois.

Além da cana-de-açúcar, a Casa da Torre enriqueceu com outras agriculturas, mas principalmente com a criação de gado. Nesse contexto, entram as terras do Piauí, desbravadas por dois importantes bandeirantes baianos: Domingos Afonso Mafrense e Pedro Barbosa Leal. Acompanhado de seu irmão, Julião Afonso Serra, Mafrense cruzou a serra que ficou conhecida como dos Dois Irmãos, e entre fazendas e sítios, situou mais de cinqüenta, nas terras dos vales dos rios Canindé, Piauí e Parnaíba. Pedro Barbosa Leal, acompanhado de seu administrador, João Gomes do Rego Barros, instalou fazendas em terras que hoje pertencem aos municípios de Oeiras e Parnaíba, no Piauí, e Timon, no Maranhão.

No litoral do Piauí, no início do século XVIII, Pedro Barbosa Leal instalou as primeiras oficinas de couro e carne seca, e as primeiras salinas. Para a santa de sua devoção, Leal construiu a capela de Nossa Senhora de Monserrathe, e assim o arraial passou a se chamar vila de N S de Monserrathe da Parnahiba, até a instalação da vila de São João, em 1762. Com as oficinas de carne e couro que se estabeleceram na primeira metade do século XVIII, Parnaíba, em 1760, atendendo a uma determinação régia de dom José I, abasteceu, com três sumacas de carne seca, a então recém criada vila Nova do Mazagão, no Amapá, vila criada para a ocupação do extremo norte do Brasil.

Ermida considerada como construída por Pedro Barbosa Leal para Villa de Nossa Senhora de Monserrathe da Parnahiba, em 1711, transformada em Passo da Paixão de Cristo. Patrimônio tombado pelo IPHAN, no Centro Histórico de Parnaíba, Piauí.

sábado, 29 de agosto de 2009

Parnaíba rumo aos 300 anos

Artigo de autoria de Mário Pires Santana – Sócio Efetivo do Instituto Histórico Geográfico e Genealógico de Parnaíba – IHGGP

No dia 14 de agosto passado, Parnaíba completou 165 anos de elevação da Vila de São João à categoria de cidade. No entanto entendo que esta data de aniversário vem sendo comemorada erroneamente ao longo do tempo. Haja vista que, no mínimo a data a ser comemorada seria aquela da criação da “Vila de São João da Parnahyba” ocorrida a 18 de agosto de 1762, por ordem do governador da então Capitania de São José, João Pereira Caldas cumprindo a decisão da Carta Régia de 19 de junho de 1761. Naquele ano foram criadas juntamente com a nossa Vila, as de Campo Maior, Marvão, Jerumenha, Valença, Parnaguá e Oeiras, que logo passou a ser cidade e capital da Província. Aquelas importantes e históricas vilas de outrora, consubstanciaram-se como as verdadeiras raízes de todas as cidades que compõem hoje o estado do Piauí.

Por isso, e pelos exemplos passados pelas hoje, cidades de: Campo Maior, Castelo do Piauí, Jerumenha, Valença, Parnaguá e Oeiras, que, inteligentemente comemoram cada aniversário, na data de criação da vila; não entendo o porquê, de Parnaíba insistir com a data de uma pretensa emancipação que não houve, por não haver sido desmembrada de ninguém.

Ademais, vale ressaltar que, as históricas cidades como: Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Recife, Olinda, São Luís, Porto Seguro, Santa Cruz de Cabrália e Ouro Preto, dentre outras comemoram o dia do aniversário como sendo a data do primeiro povoamento.

Assim sendo, Parnaíba que, muito antes de ser constituída oficialmente como Vila de São João, já possuía um povoamento --- Vila de Nossa Senhora de Monserrate --- patrocinado pelo fazendeiro português Pedro Barbosa Leal, aqui instalado com o intuito da exploração da carne e do couro bovino. Pedro Barbosa Leal expediu correspondência à Cúria Diocesana do Maranhão, com a data de 11 de junho de 1711 solicitando autorização para construir uma igreja no novo povoamento, oportunidade em que construiu e instalou na Ermida hoje existente na Rua Duque de Caxias, a imagem de Nossa Senhora de Monserrate --- vinda de Portugal ---, padroeira dos navegantes.

Parnaíba completou então, no dia 11 de junho passado 298 anos do primeiro povoamento, e, em 2011 completará a longeva, histórica e digna de comemoração festiva, idade de 300 anos.

Isto posto, sugiro que este assunto seja amplamente discutido e analisado pelas autoridades constituídas, sociedade organizada, imprensa, e os órgãos culturais como o IHGGP --- Instituto Histórico Geográfico e Genealógico de Parnaíba e a APAL --- Academia Parnaibana de Letras. Mesmo porque, ao continuarmos exaltando a data da inexistente emancipação da cidade, certamente estaremos jogando na vala injusta dos esquecidos, toda uma história de 133 anos de glórias de nossa cidade, como dentre outras, a implantação das charqueadas que fizeram Parnaíba conhecida no mercado brasileiro e europeu, e, as vanguardistas lutas pela independência em 1822 que proporcionaram à nossa cidade, por reconhecimento de Dom Pedro I o honroso título de “Metrópole das Províncias do Norte”.

Mário Pires Santana
mariophb@yahoo.com.br

Parnaíba e sua existência

Por Vicente de Paula Araújo Silva – “Potência”

Aos quatorze dias de agosto deste ano, as comemorações dos 165 anos de elevação da Vila de São João da Parnaíba, à condição política de cidade da Parnaíba, iniciaram-se com uma missa na igreja matriz de Nossa Senhora Mãe da Divina Graça. Entre os presentes que a assistiam e participavam, estavam as importantes figuras do Exmo. Sr. Governador do Estado, o Exmo. Sr. Prefeito Municipal e o Revdo. Sr. Bispo Diocesano.

Coincidentemente, naquele ato religioso, esses três expoentes da sociedade atual, estavam caracterizando os elementos humanos responsáveis pela existência da Parnaíba por ocasião do início da sua povoação. Assim, José Wellington Barroso Dias, representava o vaqueiro mestiço, curraleiro de gado; José Hamilton Furtado Castelo Branco identificava o colonizador, empreendedor econômico; enquanto, o Rev. Exmo. Dom Alfredo Sháffer, pontificava como o padre que aqui construiu o primeiro templo católico, ainda hoje existente, ali na atual Rua Duque de Caxias, nas proximidades da Rua Grande, hoje denominada Av. Presidente Vargas.

Entretanto, neste mês, deveríamos festejar também, 247 anos da criação da Vila de São João da Parnaíba e 30 anos da memorável noite ,quando foram queimados os tapumes da Praça da Graça, que escondiam a grande vergonha de sua destruição equivocada pelo gestor municipal da época.

Os homens e a terra se entrelaçam há milhões de anos e ao longo desse tempo deixam as suas memórias registradas marcando sua história. Os parnaibanos, neste primeiro decênio do século XXI, estão a cada dia pesquisando e encontrando as trilhas que percorreram os homens que fizeram esta terra a Princesa do Igaraçu.

Hoje, sabe-se, que a partir de 1699, a coroa portuguesa passou a buscar meios de ocupação ordenada na região próxima a foz do rio Parnaíba, quando Leonardo de Sá e outros desbravadores solicitaram terras às margens do Parnaíba. Naquela época, o vale do rio Longá, na bacia do Baixo Parnaíba, já estava ocupado por vaqueiros vindos da Bahia e Pernambuco. Dentre esses desbravadores, salientaram-se Bernardo Carvalho de Aguiar , fundador de São Miguel dos Tapuios, Campo Maior e a Vila Velha, hoje município de São Bernardo (Ma) ; Francisco Lopes , fundador de Buriti dos Lopes ; e e Pedro Barbosa Leal , fundador da Vila Nova da Parnaíba., surgida dos primeiros fogos (moradias) existentes às margens do Igara, braço do rio Parnaíba.

A organização e comando econômico da vila, no Porto Salgado, que a partir de 14/08/1844, passou a ser a cidade da Parnaíba, coube ao pernambucano João Gomes do Rego Barros, preposto do proprietário, o rico sertanista baiano Pedro Barbosa Leal, residente na Bahia, que fez prosperar a feitoria da salga de carne e curtição prévia da courama bovina.

Os fatos mais antigos e importantes na história da existência da Parnaíba estão às vistas dos olhos, através dos documentos existentes no livro Registro de Provisões nº 81, de 1688 a 1732, encontrados no Arquivo Público do Estado do Maranhão, como também, no marco histórico da fundação da Vila Nova da Parnaíba, a igrejinha de Nossa Senhora do Monserrathe, solicitada a sua construção por João Gomes do Rego Barros, Capitão Mor e procurador do senhor donatário da vila, Pedro Barbosa Leal.

Essas relíquias, documental e arquitetônica, comprovam a autorização e a construção da igreja na forma sagrada do Concílio Tridentino, pelo Vigário Geral, Governador do Bispado em São Luís, - Pe. Ignácio Martins Barreiros - , em 11 de junho de 1711, sendo nomeado como pároco o Padre Mestre João da Conceisão.

Diante o exposto, todos os parnaibanos natos e adotados, em respeito às memórias marcantes dos homens que ao longo dos tempos fizeram a nossa história, devem estar aliados na tomada de medidas que possam dignificar as comemorações dos 300 ANOS DE PARNAÍBA, em 2011, promovendo assim, a legitimidade do início glorioso de nossa cidade.

Série: ESTÓRIAS A RESPEITO DA HISTÓRIA DA PARNAÍBA